sábado, 22 de junho de 2013




NO AEROPORTO, BRINDANDO À LEITURA COM DRUMMOND


PROPOSTA DE ATIVIDADE DE LEITURA

ElaboraçãoPROFA. SUELI APARECIDA SILVA CABRAL
                         PROFA. LUANA BARBOSA  PEREIRA

Modalidade Organizativa: Sequência Didática

Público Alvo: 9º Ano do Ensino Fundamental

Tempo Previsto: 2 a 4 Aulas


Texto: No aeroporto de Carlos Drummond de Andrade

ESTRATÉGIAS:

Ø ANTES DA LEITURA

1º Passo: Apresentação da proposta de trabalho e dos objetivos:

  Professor:

-  Olá turma, hoje nós vamos iniciar um trabalho de leitura com alguns textos, o primeiro deles é  “No Aeroporto” de Carlos Drummond de Andrade. Essa atividade tem como objetivos:

·        Mobilizar capacidades de leitura;
·   Possibilitar a leitura de fruição no espaço escolar, explorando uma leitura dirigida com o propósito de ajudar na formação de leitores autônomos e críticos;
·  Formar leitor compreensivo para estabelecer associações e relações com a própria vida, com outros textos lidos e com os acontecimentos atuais.

2º Passo: Atividades orais para ativação de conhecimento prévio, antecipação de expectativas e hipóteses:

- Vocês já leram esse texto? Já ouviram falar desse autor? O que sabem sobre ele?
- Qual é o gênero de texto, entre os nossos conhecidos, que você acha que o autor vai apresentar?
- Você acredita que será um texto narrativo, descritivo ou dissertativo?
- Que indícios levaram você a essa hipótese?

Vamos agora explorar o título do texto:

- A expressão “No aeroporto” indica uma circunstância de quê?
- Qual o motivo de o autor ter dado esse título ao seu texto? - De que falará o texto?
- O que vocês acreditam que vai ocorrer “No aeroporto” de tão importante que justifique a escolha do título?
- Quando se vai a um aeroporto? Para quê?
- Qual o nível socioeconômico de pessoas que frequentam um aeroporto?
- Que fatos comuns ou incomuns podem ocorrer em aeroportos?
- Você já foi a um aeroporto? Se sim, para que finalidade? Se não, gostaria de ir até um?
- Vocês sabem o nome de algum aeroporto?
- Sabem o nome do aeroporto de nossa cidade?

Ø DURANTE A LEITURA

Vamos agora conhecer o texto:

NO AEROPORTO

Carlos Drummond de Andrade
 Viajou meu amigo Pedro. Fui levá-lo ao Galeão, onde esperamos três horas o seu quadrimotor. Durante esse tempo, não faltou assunto para nos entretermos, embora não falássemos da vã e numerosa matéria atual. Sempre tivemos muito assunto, e não deixamos de explorá-lo a fundo. Embora Pedro seja extremamente parco de palavras, e, a bem dizer, não se digne de pronunciar nenhuma. Quando muito, emite sílabas; o mais é conversa de gestos e expressões pelos quais se faz entender admiravelmente. É o seu sistema.
Passou dois meses e meio em nossa casa, e foi hóspede ameno. Sorria para os moradores, com ou sem motivo plausível. Era a sua arma, não direi secreta, porque ostensiva. A vista da pessoa humana lhe dá prazer. Seu sorriso foi logo considerado sorriso especial, revelador de suas boas intenções para com o mundo ocidental e oriental, e em particular o nosso trecho de rua. Fornecedores, vizinhos e desconhecidos, gratificados com esse sorriso (encantador, apesar da falta de dentes), abonam a classificação.
Devo dizer que Pedro, como visitante, nos deu trabalho; tinha horários especiais, comidas especiais, roupas especiais, sabonetes especiais, criados especiais. Mas sua simples presença e seu sorriso compensariam providências e privilégios maiores.
Recebia tudo com naturalidade, sabendo-se merecedor das distinções, e ninguém se lembraria de achá-lo egoísta ou importuno. Suas horas de sono - e lhe apraz dormir não só à noite como principalmente de dia - eram respeitadas como ritos sagrados, a ponto de não ousarmos erguer a voz para não acordá-lo. Acordaria sorrindo, como de costume, e não se zangaria com a gente, porém nós mesmos é que não nos perdoaríamos o corte de seus sonhos.
Assim, por conta de Pedro, deixamos de ouvir muito concerto para violino e orquestra, de Bach, mas também nossos olhos e ouvidos se forraram à tortura da tevê. Andando na ponta dos pés, ou descalços, levamos tropeções no escuro, mas sendo por amor de Pedro não tinha importância.
Objetos que visse em nossa mão, requisitava-os. Gosta de óculos alheios (e não os usa), relógios de pulso, copos, xícaras e vidros em geral, artigos de escritório, botões simples ou de punho. Não é colecionador; gosta das coisas para pegá-las, mirá-las e (é seu costume ou sua mania, que se há de fazer) pô-las na boca. Quem não o conhecer dirá que é péssimo costume, porém duvido que mantenha este juízo diante de Pedro, de seu sorriso sem malícia e de suas pupilas azuis — porque me esquecia de dizer que tem olhos azuis, cor que afasta qualquer suspeita ou acusação apressada, sobre a razão íntima de seus atos.
Poderia acusá-lo de incontinência, porque não sabia distinguir entre os cômodos, e o que lhe ocorria fazer, fazia em qualquer parte? Zangar-me com ele porque destruiu a lâmpada do escritório? Não. Jamais me voltei para Pedro que ele não me sorrisse; tivesse eu um impulso de irritação, e me sentiria desarmado com a sua azul maneira de olhar-me. Eu sabia que essas coisas eram indiferentes à nossa amizade — e, até, que a nossa amizade lhe conferia caráter necessário de prova; ou gratuito, de poesia e jogo.
Viajou meu amigo Pedro. Fico refletindo na falta que faz um amigo de um ano de idade a seu companheiro já vivido e puído. De repente o aeroporto ficou vazio.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. Reprod. Em: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973. p.1107-1108
Disponível em: <http://theednpoetopias.blogspot.com/2010/03/drummondianas.html> Acesso em: 15 jun. 2023

Ø ANTES DE DISTRIBUI-LO PARA A LEITURA NA ÍNTEGRA.

Atente para o seguinte enunciado que introduz o texto: (Escrevê-lo na lousa, se for o caso)

“Viajou meu amigo Pedro”. Fui levá-lo ao Galeão, onde esperamos três horas o seu quadrimotor”.

- A frase destacada do texto confirma alguma hipótese levantada por você?
- Quem seria Pedro?
- Por que será que Pedro Viajou?
- Pedro foi para perto ou longe?
- Qual palavra da expressão assinalada retoma uma do título?
-Em qual cidade fica o Aeroporto do Galeão? Ele tem outro nome?
- O que seria quadrimotor?         

Figura 1 - Aeroporto do Galeão - RJ

                                                            
Figura 2 - Quadrimotor 1
   
 Distribuir textos impressos para os alunos e pedir que façam uma leitura silenciosa destacando informações que julgarem importantes e anotarem eventual dificuldade com o vocabulário e se, necessário, consultarem o dicionário que já estará à disposição.

Agora que já o conhecemos:

- Do que fala o texto?
- Há pista de para onde Pedro teria ido?
- Qual é a posição do narrador em relação aos acontecimentos? (foco narrativo)
- Como é que era Pedro? Existe alguma descrição desse personagem no texto?
- Sobre que assuntos Pedro e o narrador conversavam?
- Quanto tempo Pedro ficou na casa do narrador?
- Por que tudo feito ou não feito pelos moradores era em função de Pedro?               
- Pelas expressões linguísticas usadas pelo narrador, dá para saber por que Pedro era tão querido por todos?
- Afinal quem é Pedro? Será ele algum parente do narrador?
- Como é que era o narrador? Ele deu alguma referência de si mesmo? Se deu,  encontre as expressões e explique-as.

Observe o fechamento do texto:

Viajou meu amigo Pedro. Fico refletindo na falta que faz um amigo de um ano de idade a seu companheiro já vivido. De repente o aeroporto ficou vazio.


Figura 3 - Quadrimotor 2

- Em que sentido um amigo de apenas um ano de idade faria falta a uma pessoa já velha?


- Explique no contexto, o sentido da expressão “De repente o aeroporto ficou vazio”
Em algum momento você se identificou com a solidão do narrador, ao perceber que um lugar, de repente, só para si ficou vazio?  Em que sentido?

Ø DEPOIS DA LEITURA

Agora proponho que se sentem em duplas e:

- troquem impressões a respeito do texto lido, do que teria facilitado ou dificultado a sua compreensão;
- façam apontamentos escritos sobre os sentidos do mesmo e uma avalição crítica sobre ele;
-Elejam alguém da dupla para expor às demais o resultado desse trabalho.                                 

Ø Leituras Complementares:

Vamos agora conhecer dois outros textos que têm como foco o espaço aeroporto, só que com abordagens diferentes.

Texto 1:

Saudades: já chorei em aeroportos ao deixar quem não queria ver partir

Sónia Balacó

Lembro a minha primeira grande despedida, há quase 4 anos. No aeroporto, entre família e amigos, aguentei com um nó na garganta as lágrimas alheias.

Estou no autocarro a caminho de casa dos meus pais. Até aqui apanhei um taxi, um metro, um comboio, um avião, outro taxi e agora este autocarro. Numa das paragens vejo um filho ser recebido com gritos pela família, o pai a esfregar-lhe a barriga, o irmão a gargalhar e a mãe com os braços muito abertos. Sei imediatamente que ele vem de longe, como eu, de uma distância que não se pode atravessar sempre que se quer, uma distância que nos impede de pertencer à rotina.

Lembro a minha primeira grande despedida, há quase 4 anos. No aeroporto, entre família e amigos, aguentei com um nó na garganta as lágrimas alheias e percebi que a felicidade está directamente ligada ao amor destas pessoas que a vida fez o favor de colocar ao meu lado, pessoas que me amam e ao mesmo tempo compreendem que tenho de ir.

Desde então já vivi muitos reencontros e muitas despedidas, já chorei em aeroportos ao deixar quem não queria ver partir, já fui só abraços e alegria, e já vivi a solidão de chegar a sítios onde ninguém me espera. Enquanto eu transito, estas pessoas aguardam na repetição dos dias que a minha chegada os torne um bocadinho mais cheios.

A caminho, penso no conforto estrutural e inabalável do quotidiano, que a minha ausência não faz colapsar. Um sítio-amor a que posso voltar sempre, e onde sinto que nunca fui embora. Estou constantemente em dívida, de arma em riste contra a ausência, e ainda assim falho, porque não consigo melhor.

Chego pelo mesmo caminho de sempre, de que conheço todas as curvas e cruzamentos. Adivinho o sorriso e o abraço apertado, abraço por todos os abraços que ficaram por dar hoje, esta semana, este mês. Antecipo o cheiro a jantar, o ruído da televisão na sala, os desenhos da toalha na mesa. Sei de cor como será a minha chegada, de tantas vezes que a vivi. Sei-a tão bem que me parece sempre a mesma, uma eterna chegada a uns braços abertos.

A saudade, que só se tem em ausência, é ainda assim um saco que nunca se esvazia, mesmo quando estamos juntos todos os dias, porque são dias contados. Nunca poderei devolver a quem amo os dias que lhes retirei. Posso só tentar que os que partilhamos sejam grandes. Posso só ser mais amor, tentar ser menos falha, e pedir com a humildade da minha pequenez que a vida me permita dar-lhes muito mais.

em: 14 jun. 2013.


Texto 2:      Sobre o Comportamento das Pessoas nos Aeroportos


     
Figura 4 - Pessoas no Aeroporto Galeão - RJ


Neste fim de ano e nos meses de janeiro e fevereiro as pessoas viajam mais, por conta das promoções, férias escolares e do serviço público. Pois bem é impressionante como as pessoas ao entrarem no mundo dos aeroportos... um universo paralelo...Se comportam diferentemente do seu cotidiano.
Pude observar, e eu não sou exceção, que as pessoas criam uma postura estranha.
Ao entrar no aeroporto bagagens, tickets a mão, casacos, cabelos na chapinha, saltos alto, ternos, ou mesmo os despojados com bermudas e tatoo, criam uma máscara de uma personagem que não são elas... todos são os mais inteligentes, todos são os mais gostosos, indiferentes em fazer amizades, pois ninguém fala com ninguém...alguns ensaiam um bom dia. Outros abrem revistas e notebooks demonstrando uma superioridade... e os celulares, nossa todos ligados. Passam em revista e surge o som de metais... volte e passe outra vez e tire as moedas, diz o agente.
E com isso os demais ficam a espionar a pessoa como se ela fosse um terrorista... é incrível esta percepção.
Ok todos sentados quando ouvem que o voo mudou o horário por atraso... aí é que o bicho pega... todos ficam irritados como se fossem donos do aeroporto... todos são importantes, todos vão a posse do Barack Obama...todos vão ao FMI... enfim todos ficam furiosos... poucos têm educação de esperar e ver o que está acontecendo. Mas daí , embarcam...ao entrar no avião existe outro fenômeno... A poltrona está ocupada, os guarda-volumes estão cheios, pois existem pessoas que trazem bolsas do tamanho de uma geladeira, um frigobar... E as demais acabam por terem espaços... mas tudo bem o avião levanta voo.
Vem a demonstração de emergência... em caso de... use a máscara etc. Ninguém olha para os comissários, afinal é um saco mesmo. Vêm as balinhas, uma barra de cereal, um solavanco, pois está chovendo muito. pronto... todos são iguais.
Todos congelam... a turbulência diminui...e acreditem...todos voltam a ser onipotentes. Chega o desembarque, ninguém espera o avião taxiar e pousar e retiram cintos de segurança e seus troços dos bagageiros, quase ninguém olha e agradece ou dá bom dia aos comissários. Saem, simplesmente. Na esteira pegam seus muitos volumes e saem em busca de um taxi, parentes ou um ônibus. O inacreditável é que saem do aeroporto e retomam seus personagens anteriores, como se nada tivesse acontecido. Retornam as suas vidas e só assumem de novo uma outra personagem quando entram ...sabe onde ? Num shopping Center... igualzinho ao de um aeroporto.
Isto acontece no Brasil em todos países. Observe e analise.

Disponível em:


APÓS LEITURA DOS TEXTOS COMPLEMENTARES.

Questionar:

- Qual dos textos se aproxima mais do texto “No aeroporto” – Em quais aspectos?
- Faça uma análise crítica do 2º Texto complementar.
- Faça um breve relato de alguma situação que você tenha vivenciado e que envolva  uma despedida.

AVALIAÇÃO: Será feita através de observações no desenvolver das atividades, grau de envolvimento, qualidade das intervenções, capacidade de identificar a ideia principal, identificar e recuperar as informações explícitas e implícitas, realização de inferências, capacidade de sintetização e avaliação crítica.

Resultados Esperados: Espera-se que no final das atividades desenvolvidas os alunos compreendam os textos apresentados, observando o gênero textual a que pertencem, a tipologia narrativa e a esfera de circulação; Tenham posicionamento crítico a partir de sentido que dão aos textos estudados, leiam de maneira independente os gêneros estudados  e ainda aprendam a "reverenciar" os verdadeiros mestres da literatura brasileira.



Nenhum comentário:

Postar um comentário