quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Cronica



Analisando a Crônica



DETALHES
Luis Fernando Veríssimo
O velho porteiro do palácio chega em casa, trêmulo. Como sempre que tem baile no
palácio, sua mulher o espera com café da manhã reforçado. Mas desta vez ele nem
olha para a xícara fumegante, o bolo, a manteiga, as geleias. Vai direto à
aguardente. Atira-se na sua poltrona perto do fogão e toma um longo gole de
bebida, pelo gargalo.
___ Helmuth, o que foi?
___ Espera, Helga. Deixa eu me controlar primeiro.
Toma outro gole de aguardente.
___ Conta, homem! O que houve com você? Aconteceu alguma coisa no baile?
___ Co-começou tudo bem. As pessoas chegando, todo mundo de gala, todos com
convite, tudo direitinho. Sempre tem, é claro, o filhinho de papai sem convite que
quer levar na conversa, mas já estou acostumado. Comigo não tem conversa. De
repente, chega a maior carruagem que eu já vi. Enorme. E toda de ouro. Puxada
por três parelhas de cavalos brancos. Cavalões! Elefantes! De dentro da carruagem,
salta uma dona. Sozinha. Uma beleza. Eu me preparo para barrar a entrada dela
porque mulher desacompanhada não entra no baile do palácio. Mas essa dona tão
bonita, tão sei lá, radiante, que eu não digo nada e deixo ela entrar.
___ Co-começou tudo bem. As pessoas chegando, todo mundo de gala, todos com
convite, tudo direitinho. Sempre tem, é claro, o filhinho de papai sem convite que
quer levar na conversa, mas já estou acostumado. Comigo não tem conversa. De
repente, chega a maior carruagem que eu já vi. Enorme. E toda de ouro. Puxada
por três parelhas de cavalos brancos. Cavalões! Elefantes! De dentro da carruagem,
salta uma dona. Sozinha. Uma beleza. Eu me preparo para barrar a entrada dela
porque mulher desacompanhada não entra no baile do palácio. Mas essa dona tão
bonita, tão sei lá, radiante, que eu não digo nada e deixo ela entrar.
___ Bom, Helmuth. Até aí...
___ Espera. O baile continua. Tudo normal. Às vezes rola um bêbado pela
escadaria, mas nada de mais. E então bate a meia-noite. Há um rebuliço na porta do
palácio. Olho para trás e vejo uma mulher maltrapilha que desce pela escadaria,
correndo. Ela perde uma sapato. E o príncipe atrás dela.
___ Bom, Helmuth. Até aí...
___ Espera. O baile continua. Tudo normal. Às vezes rola um bêbado pela
escadaria, mas nada de mais. E então bate a meia-noite. Há um rebuliço na porta do
palácio. Olho para trás e vejo uma mulher maltrapilha que desce pela escadaria,
correndo. Ela perde uma sapato. E o príncipe atrás dela.
___ O príncipe?
___ Ele mesmo. E gritando para mim segurar a esfarrapada. “Segura! Segura!” Me
preparo para segura-la quando ouço uma espécie de “vum” acompanhado de um
clarão. Me viro e...
___ E o quê, meu Deus?
O porteiro esvazia a garrafa com um último gole.
___ Você não vai acreditar.
___ O príncipe?
___ Ele mesmo. E gritando para mim segurar a esfarrapada. “Segura! Segura!” Me
preparo para segura-la quando ouço uma espécie de “vum” acompanhado de um
clarão. Me viro e...
___ E o quê, meu Deus? 186
O porteiro esvazia a garrafa com um último gole.
___ Você não vai acreditar.
___ Conta!
___ A tal carruagem. A de ouro. Tinha se transformado numa abóbora.
___ Numa o quê?
___ Eu disse que você não ia acreditar.
___ Uma abóbora?
___ E os cavalos em ratos.
___ Helmuth...
___ Não tem mais aguardente?
___ Acho que você já bebeu demais por hoje.
___ Juro que não bebi nada!
___ Esse trabalho no palácio está acabando com você, Helmuth. Pede para ser
transferido para o almoxarifado.
VERÍSSIMO, L. F. O analista de Bagé. 100. ed. Porto Alegre: L&P Editore
4-Identificação: o narrador é um personagem – o porteiro do palácio do Rei. Vejam o nome dele e da sua mulher:
Helmut e Helga então porque o Luis Fernando Veríssimo escolheu esses nomes?
Esses nomes Alemães se referem a quem? - Ao Green. Isso ao Jacob Green, que ele é a referencia no mundo do conto de fadas, aqui o é Jacob Grimm é o sobrenome, ( Jacob grimm e Wilhelm Grimm -autores alemães dos contos de fadas infantis). Então a escolha desses nomes foi intencional, do Luis Fernando.
6- INTERPRETAÇÃO
a)Trabalhar primeiro o título: Porque que o  Luis Fernando Veríssimo colocou Detalhes, porque que vocês acham que ele colocou esse título Detalhes? No começo do texto fala dos detalhes da casa do porteiro, a mulher colocou bolo, manteiga, totalmente detalhado o dia dele. Mas há também os detalhes do conto da Cinderela: a abóbora, os ratinhos…
b)o que daria para identificar o humor aqui nesse texto porque que fica engraçado?
c)  Por que ele ficou espantado? (Ima moça chegar ao baile sozinha, os bêbados, os que entram sem ingresso) Isso aqui vocês acham que poderia ter ocorrido assim na atualidade ou em tempos lá da Cinderela, o que vocês acham?
7- COMENTANDO PARTES DA CRONICA
Então, vejam que interessante que interessante, o porteiro  até gagueja… começou tudo bem, as pessoas chegando todo mundo de gala(O QUE É GALA? enriquecer o vocabulário na interpretação) todos com convite tudo direitinho, sempre tem é claro filhinho de papai ( É UM FATO ATUAL?) sem convite que “quer levar na conversa”, mas já estou acostumado, esse filhinho de papai  è  de  que tempo? Do nosso tempo, da nossa atualidade.  Do nosso tempo: ele conseguiu fazer essa intertextualidade de uma coisa que já aconteceu com os dias atuais por isso que é crônica. E isso que dá humor. Vejam como FICOU BEM INTERESSANTE – CONTADO ASSIM POR VERISSIMO-
7- Após a análise da Crônica vem a produção individual do texto, em que o professor vai propor que cada aluno escola um personagem do texto original e este personagem seja o narrador e reconte a história sob o seu ponto de vista, como “ele viu e imaginou a história da Cinderela”, dentro das característica de uma crônica.
O  professor pode começar a relatar, oralmente, como o ratinho(transformado em cocheiro descreveria somente o que viu e o que aconteceu com ele também… apenas um trechinho para que a turma entenda o que se pede), e se prepare para a surpresa de crônicas nunca antes  imagináveis escritas pelos alunos da sua turma. Pode abrir um concurso para a melhor, porque vai haver excelentes produções.
Esta estratégia pode ser usada desde o 4º ano das séries iniciais ao Fundamental II, com esta crônica do Veríssimo ou com outros excelentes contos ( que sejam breves, como as fábulas) brasileiros e mesmo com contos sem intertextualizações. Um ideia bem legal, para não recair em contos com cunho mais  antigo, peça aos alunos que tragam crônicas de jornais ou revistas sobre assuntos atuais e até mesmo políticos, econômicos, sobre assuntos que estão na mídia, para serem trabalhados  na produção de textos intextualizados como o a que foi usada  nesta e em outras estratégias de recontos.

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