quarta-feira, 30 de outubro de 2013

INTRODUÇÃO

Desde os primórdios, os homens se reuniam ao redor da fogueira para se esquentar,
dialogar, relatar acontecimentos, ouvir e contar histórias. O hábito de ouvir e contá-las é
uma atividade tão antiga quanto a própria humanidade, não sabendo precisar quando
esse hábito “(...) se instituiu como prática social, porém pode-se afirmar que é bem
antigo, de ordem universal, ocorrendo, portanto, em todas as civilizações...”.1


Todos os povos, em todas as épocas, cultivaram seus contos, cuidadosamente
transmitidos oralmente de geração em geração. Estes contos atravessaram as fronteiras
do tempo e do espaço, misturando realidade e fantasia, e nesse processo, sofreram todo
tipo de modificação: fusões, acréscimos, cortes, substituições e influências, mas sempre
expressando, nas suas linhas e entrelinhas, ensinamentos e valores atemporais.

Quem não conhece “João e Maria”, “Cinderela”, “Afrodite”, “Poseidon”...? Certamente
todos nós, um dia, já ouvimos a história dessas personagens. Elas vêm povoando a
imaginação de crianças, jovens e adultos, há séculos...

Os contos, assim como as lendas, os mitos e as fábulas são tipos de narrativas
originárias desde as mais antigas civilizações. Estes povos, através das histórias que
contavam, passavam ensinamentos e preservavam sua cultura. Graças à tradição oral e
mais tarde ao texto impresso, a arte de contar histórias foi passada de geração a geração,
constituindo até os dias de hoje, importantes fontes de informações para entendermos a
história das civilizações. Dentro deste contexto é importante perceber o trabalho dos
compiladores desse gênero literário que, até então, se mantinha no ideário popular,
como: Homero com sua Odisséia (poeta grego – séc. VIII a.C; Charles Perrault
(França – séc. XVIII); os irmãos Grimm (Jacob e Wilhelm – Alemanha - séc. XVIII) e
tantos outros, pois, esses escritos, além de preservar a memória histórica de um povo,
emocionam, por lidar com o imaginário, divertem, criam suspense, mostram verdades e
revelam sentimentos e valores de uma época.

Em cada país, surgiram novas modalidades de contos, regidos de acordo com a época e
os movimentos artísticos que este momento histórico-cultural provocou e adquiriram
forma literária e estética. Assim, lêem-se hoje, contos de amor, de humor, contos
fantásticos, de mistério e terror, contos realistas, psicológicos, sombrios, todos com
estilos próprios daqueles que os escreveram.



CARACTERÍSTCAS DOS CONTOS

O conto caracteriza-se por ser uma história não muito longa, que possui unidade
dramática. Sendo assim, a ação da história se concentra em um único ponto de interesse:
o conflito que, por sua vez, gira em torno dos propósitos dos personagens na busca de
soluções, através de diversas ações que se relacionam num encadeamento temporal e



Considerando que o conto apresenta um enredo que se passa num determinado espaço 
de tempo podemos observar o emprego de algumas palavras ou expressões lingüísticas 
(geralmente advérbios ou locuções adverbiais) que têm a função de marcar a cronologia 
da história. É através destas palavras que podemos perceber, ter transcorrido “um 
tempo”, na seqüência narrativa. A demarcação do tempo aparece, geralmente, no 
primeiro parágrafo, sendo que nos contos tradicionais iniciam com expressões tipo: Era 
uma vez..., Certa vez... 
 
O conto tem função literária, isto é, o autor brinca com a linguagem, pode transgredir, 
inventando palavras. A trama predominante é a narrativa, mas vale-se da trama 
descritiva para apresentar os personagens e lugares, e da trama conversacional para 
estabelecer o diálogo. Este último, predominante, principalmente, nos contos dirigidos 
às crianças, uma vez que dá grande realismo à cena, pois ela atualiza presentifica os 
fatos e envolve mais facilmente o leitor que o discurso indireto, que fica a cargo do 
narrador. O narrador é a voz que conta a história. Esta voz pode ser de uma personagem 
ou testemunha narrado na primeira pessoa ou de uma terceira pessoa que não intervém 
na narrativa, podendo adotar diferentes pontos de vista. 
 
É importante destacar a função dos verbos na construção e na interpretação dos contos: 
os pretéritos perfeito e imperfeito predominam na narração e o tempo presente nas 
descrições e nos diálogos, e também, as estratégias de definibilidade e de coesão, 
principalmente, pronominalização, substituição lexical e conectores de encadeamento e 
ruptura. 
 
 
 
ABORDAGEM PEDAGÓGICA DOS CONTOS 
 
Os contos são gêneros textuais com o qual os alunos entram em contato logo nos 
primeiros anos escolares. O ato de ouvir histórias auxilia no processo de aquisição da 
língua escrita. É o primeiro passo para estimular a competência leitora e desenvolver a 
escrita por meio da sistematização das idéias. 
 
Os estudos sobre a aquisição da linguagem escrita têm demonstrado a relação entre 
leitura de contos e as crianças em processo de alfabetização. As investigações têm 
apontado que as crianças que lêem frequentemente contos sabem como manipular os 
livros, podem dizer o que está na capa e conhecer a direção em que se lêem os impresos. 
Além disso, ajuda às crianças pequenas a aprender as características da língua escrita e 
que esta é diferente da oral, que a letra de imprensa gera significado e que as palavras 
estampadas na página têm sentido. 
 
As atividades de leitura e escrita, assim como a prática de comunicação oral com contos 
possibilitam que os/as alunos/as pensem sobre: 
• A função social da escrita. 
• As convenções gráficas da escrita: o direcionamento, o alinhamento, 
segmentação dos espaços em branco e pontuação. 
• A diferença entre letras e números, letras e desenho. 
• A percepção da forma e do valor sonoro convencional das letras. 
• A constatação da conservação de letras e sílabas nas palavras.

• A quantidade de letras necessárias para escrever as palavras. 
• A variedade, posição e ordem das letras em uma escrita convencional. 
• A natureza alfabética do sistema de escrita. 
• A relação grafema e fonema. 
• Os princípios e as regras ortográficas. 
• As relações do que se leu com outras leituras e experiências. 
• O sentido do texto lido... 
 
Além de: 
• Desenvolver a cognição, o pensamento lógico, a atenção, a escuta, a memória, a 
observação, a criatividade, a imaginação, a sensibilidade, a reflexão, a 
criticidade, as linguagens oral e escrita. 
• Ampliar o repertório cultural, o volume de escrita e o vocabulário. 
• Possibilitar construção da base alfabética e ortográfica. 
• Funcionar como modelo de escrita convencional. 
• Trabalhar a análise lingüística da estrutura das palavras do texto (letra e silaba 
(inicial e final), número de letras e sílabas, posição das letras na palavra, relação 
entre som e grafia). 
• Trabalhar com as diferentes estratégias de leitura. 
• Permitir o contato com diferentes sílabas e diferentes tamanhos de palavras. 
• Organizar a fala. 
 
A presença regular dos contos na sala de aula possibilita: 
• Um processo de alfabetização e letramento real e significativo, posto que é um 
gênero textual que circula no mundo social. 
• A formação de leitores competentes. 
• A formação intelectual. 
• A inserção no mundo letrado. 
• A descoberta de outros lugares, outras épocas, outras culturas, outros modos de 
ser e de agir. 
 
Quanto ao ensino do conto, o debate pedagógico está centrado em duas questões: se os 
professores devem ensinar diretamente aos alunos os elementos que compõem um conto 
com o objetivo para aprendizagem da leitura e da escrita; ou usar os contos apenas para 
o ensino da leitura na sua dimensão lúdica, pessoal e independente. 
 
Diante dessas questões, optou-se por trabalhar com os contos envolvendo dois projetos: 
- para a apreciação, visando à produção de leitura na sua dimensão lúdica e 
pessoal; 
- para relacionar a leitura à produção de texto, visando uma produção efetiva 
dos textos e de uma reflexão constante sobre o funcionamento e estrutura da 
língua. 
 
A escolha dos contos: 
A literatura infanto-juvenil tem considerado três das diferentes fases da evolução da 
criança descritas pela Psicologia: 
- a fase do mito (3/4 a 7/8 anos) – nesta fase a criança não diferencia entre 
realidade e fantasia, por isso a leitura mais adequada são os contos de fadas, os 
mitos, as lendas e as fábulas.

a fase do conhecimento da realidade (7/8 a 11/12 anos) – a criança tem 
maior necessidade da ação, passa do contemplativo para o executivo. A leitura 
adequada para a essa fase são os contos de aventura, o relato histórico, os relatos 
mitológicos, os heróis (sobre o princípio da vida dos povos), os de viagens e 
façanhas. 
- a fase do pensamento racional (11/12 anos até a adolescência) - nesta fase 
as questões pessoais adquirem valor extraordinário, por isso a leitura de 
romances é a mais adequada pelo caráter de seus heróis e por seus temas. 
 
Entretanto, sendo um estudo teórico, deve-se considerar estas fases apenas como 
referência para a escolha dos contos, pois cada criança tem o seu desenvolvimento 
peculiar definido por fatores diferentes. Por isso, é fundamental conhecer a criança, sua 
história, suas experiências e ligações com o livro. 
 
Resumindo, as crianças, desde a Educação Infantil, necessitam serem expostas a um 
ambiente rico em materiais que circulam no mundo escolar e no mundo social, para que 
possam ir aprendendo o uso e a função social da língua escrita. Elas precisam perceber, 
analisar e formular suas hipóteses sobre a leitura e a escrita a que está exposta em seu 
cotidiano. Necessitam ouvir e contar histórias para desenvolver sua imaginação, a 
observação e a linguagem oral e escrita, assim como, o prazer e o interesse pela leitura. 
Nesta perspectiva, os contos tornam-se um importante recurso pedagógico. 
 
 
ABORDAGEM PSICOLÓGICA DOS CONTOS 
 
A infância caracteriza-se como uma fase de intensas descobertas. A criança nesta fase 
mergulha no mundo da fantasia, da imaginação e do encantamento, o mundo dos 
contos. As narrativas contidas nestes contos além de entreter: 
• São ricas fontes de descargas de tensões e angústias, de 
resolução/enfrentamento dos conflitos, ajudando a promover a estabilidade 
emocional. 
• São poderosos recursos de estimulação do desenvolvimento psicológico e 
moral, ajudando na manutenção da saúde mental da criança em crescimento. 
• Cria referenciais importantes ao desenvolvimento subjetivo. 
• Trabalha atualizando e reinterpretando questões universais, tais como a 
dicotomia entre o bem e o mal, o forte e o fraco, a riqueza e a pobreza, o 
belo e o feio, defeitos e virtudes, ajudando assim na formação de conceitos. 
• Trabalham com a aceitação das diferenças. 
• Misturam realidade e fantasia, transportando as crianças para o mundo dos 
personagens encontrando ali alguns de seus problemas e desejos. 
• Ajudam a interpretar o mundo. 
• Auxiliam na formação e construção da subjetividade da criança. 
• Ajudam a elaborar conflitos inerentes ao processo de desenvolvimento e 
socialização. 
• Aliviam pressões inconscientes, constróem um sistema metafórico e 
simbólico. 
• Contribuem para a formação de valores. 





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