domingo, 1 de setembro de 2013

2 PARTE

violências, tampouco de tornar as pessoas subitamente virtuosas ou solidárias.
No entanto,
[...] contribui, algumas vezes, para que crianças, adolescentes e
adultos, encaminhem-se no sentido mais do pensamento do que da
violência. Em certas condições, a leitura permite abrir um campo de
possibilidades, inclusive onde parecia não existir nenhuma margem
de manobra. (p. 13).
Em “As duas vertentes da leitura”, Petit trata das duas principais concepções ligadas à leitura: controle ou liberdade. De acordo com entrevistados
do meio rural, a leitura solitária e silenciosa era uma exceção, de modo que
o comum, para essas pessoas, era a leitura compartilhada e em voz alta realizada na família, no catecismo ou na escola. Nesse segundo tipo de leitura,
de acordo com Petit, percebemos uma relação entre leitura e poder, já que é
possível controlar “o que” e “como se é lido”. Em oposição a essa concepção
domesticadora, Petit lembra que a leitura é, antes de tudo, um ato de liberdade,
que foge a qualquer controle externo, já que “[...] os leitores apropriam-se dos
textos, lhes dão outro significado, mudam o sentido, interpretam à sua maneira,
introduzindo seus desejos entre as linhas: é toda a alquimia da recepção. Não
se pode jamais controlar o modo como um texto será lido, compreendido ou
interpretado.” (p. 26).
Além disso, Petit argumenta que a leitura, por permitir um distanciamento, uma descontextualização da realidade concreta, pode estimular o
senso crítico e ainda proporcionar um espaço para a reflexão, com abertura a
novas possibilidades acerca do viver. Pela literatura, podemos nomear estados
psicológicos até então desconhecidos e conhecer lados obscuros, ambivalências e contradições do ser humano. Assim, o leitor transforma o texto e é
transformado por ele, pois “opera um trabalho produtivo”, entendido como
reescrita. Na leitura, é possível alterar sentidos, distorcer, reempregar, introduzir
variantes. Acrescenta, porém, que “[...] também é transformado: encontra algo
que não esperava e não sabe nunca aonde isso poderá levá-lo.” (p. 28-29).
Petit lembra que, em especial na adolescência, a leitura pode ocupar
um papel formador, capaz de mudar os rumos da vida e reorganizar os pontos
de vistas, ao nos mostrar que estamos experimentando afetos, tensões e angústias universais. (p. 50).

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