domingo, 1 de setembro de 2013

3 PARTE

Na segunda parte, “O que está em jogo na leitura hoje em dia”, a
autora trata da importância da literatura para a construção de si mesmo, para
o autoconhecimento e para a identidade, especialmente na adolescência. Petit
argumenta que a literatura permite, além da apropriação da língua, uma abstração das experiências vividas, afinal, “[...] quanto mais formos capazes de
nomear o que vivemos, mais aptos estaremos para vivê-lo e transformá-lo.”
(p. 71).
A autora enfatiza que, a partir da literatura, podemos humanizar o
outro, pois, diferentemente das narrativas históricas, que falam de pessoas anô-
nimas ou de números abstratos, os textos literários nomeiam uma personagem
singular, provocando a identificação e emocionando o leitor. Dessa forma,
no ato de leitura, aparentemente solidário, há uma descoberta de como se
está próximo das outras pessoas, criando-se um círculo de pertencimento mais
amplo, que se estende “[...] para além do parentesco, da localidade, da etnicidade.” (p. 95).
Contudo, é preciso não sacralizar a leitura. A antropóloga lembra
que a leitura em si não torna as pessoas virtuosas (aliás, segundo a autora, a
historia está repleta de exemplos de tiranos e perversos letrados). Além disso,
nem toda leitura é edificante, já que há obras que apenas distraem o leitor,
conduzindo-o à regressão. A leitura é importante, quando mostra ao indivíduo
que é possível “[...] sair do caminho que tinham traçado para ela, escolher sua
própria estrada, [...] ter direito a tomar decisões [...], em vez de sempre se
submeter aos outros.” (p. 100).
Em “O medo do livro”, mostra os principais empecilhos para a forma-
ção do leitor e as contradições nos discursos de democratização da leitura.
Petit aponta que os seres humanos têm uma relação bastante ambivalente com
a novidade, a liberdade, o pensamento, ora desejando-os, ora temendo-os.
Acrescenta que a literatura pode gerar devaneios incontroláveis, o que assusta,
por exemplo, os regimes totalitários. Além disso, a autora lembra que a instabilidade e a incerteza provocadas pela literatura podem abalar pessoas
inseguras, pois “[...] a leitura ajuda a pessoa a se construir, mas pressupõe,
talvez, que ela já tenha se construído o suficiente e que suporte ficar a sós, confrontada consigo mesma.” (p. 134). A antropóloga conclui que há, mesmo em
meios em que há estimulo à leitura, uma dimensão transgressora no ato de ler.

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