segunda-feira, 23 de setembro de 2013




No Aeroporto
Viajou meu amigo Pedro. Fui levá-lo ao Galeão, onde esperamos três horas o seu quadrimotor. Durante esse tempo, não faltou assunto para nos entretermos, embora não falássemos de vã e numerosa matéria atual. Sempre tivemos muito assunto, e não deixamos de explorá-lo a fundo. Embora Pedro seja extremamente parco de palavras e, a bem dizer, não se digne pronunciar nenhuma. Quando muito, emite sílabas; o mais é conversa de gestos e expressões, pelos quais se faz entender admiravelmente. É o seu sistema.
Passou dois meses e meio em nossa casa, e foi hóspede ameno. Sorria para os moradores, com ou sem motivo. Plausível. Era a sua arma, não direi secreta, porque ostensiva. A vista da pessoa humana lhe dá prazer. Seu sorriso foi logo considerado sorriso especial, revelador de suas boas intenções para com o mundo ocidental e o oriental, e em particular o nosso trecho de rua. Fornecedores, vizinhos e desconhecidos, gratificados com esse sorriso (encantador, apesar da falta de dentes), abonam a classificação.
Objeto que visse em nossa mão, requisitava-º Gosta de óculos alheios (e não os usa), relógio de pulso, copos, xícaras e vidros em geral, artigos de escritório, botões simples ou de punho. Não é colecionador; gosta das coisas para pegá-las, mirá-las e ( é seu costume ou sua mania, que se há de fazer) pô-las na boca. Quem não o conhecer dirá que é péssimo costume, porém duvido que mantenha este juízo diante de Pedro, de seu sorriso sem malícia e de suas pupilas azuis – porque me esquecia dizer que tem olhos azuis, cor que afasta qualquer suspeita apressada, sobre a razão íntima de seus atos.
Poderia acusá-lo de incontinência, porque não sabia distinguir entre os cômodos, e o que lhe ocorria fazer, fazia em qualquer parte? Zangar-me com ele porque destruiu a lâmpada do escritório? Não. Jamais me voltei para Pedro que não me sorrisse; tivesse eu um impulso de irritação, e me sentiria desarmado com a sua azul maneira de olhar-me. Eu sabia que essas coisas eram indiferentes à nossa amizade – e, até, que a nossa amizade lhes conferia caráter necessário, de prova; ou gratuito, de poesia e jogo.
Viajou meu amigo Pedro. Fico refletindo na falta que faz um amigo de um ano de idade a seu companheiro já vivido e puído. De repente o aeroporto ficou vazio.
1. O que se pode inferir a partir da afirmação: “ de repente o aeroporto ficou vazio” (linhas 62-63)?
a) A movimentação de pessoas no aeroporto foi concluída.
b) A alegria que impregnava o ambiente acabou.
c) A inquietação das pessoas, em virtude da partida, cessou.
d) A intensidade do movimento de pessoas diminuiu.
e) A ausência de expectativa das pessoas que circulavam.
2. Que opção sintetiza a idéia central do texto?
a) Saudade do amigo no momento de sua chegada.
b) Carinho e encantamento do adulto pela criança.
c) Relacionamento formal entre a criança e o adulto.IMPORTANTE!!
d) Prazer de levar o amigo ao aeroporto e vê-lo partir.
e) Amizade, proporcionando uma mudança de vida.
3. Qual a intenção do narrador ao usar a expressão grifada no trecho abaixo?
“Era a sua arma, não direi secreta, porque ostensiva.” (linhas 18-19)
a) Destacar o poder do sorriso de Pedro na vida das pessoas.
b) Apreciar a ousadia de Pedro quando sorri para as pessoas.
c) Mostrar o sorriso como elemento de fantasia na vida de Pedro.
d) Expressar a influência que o sorriso dissimulado exerce.
e) Demonstrar a inquietação de Pedro ao sorrir para as pessoas.
4. Que significa a palavra sublinhada sugere no contexto?
“Fico refletindo na falta que faz um amigo de um ano de idade a seu companheiro já vivido e puído” (linhas 59-62)

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