domingo, 9 de junho de 2013

LEITURA E ESCRITA



Meu Primeiro Beijo - Antonio Barreto

É difícil acreditar, mas meu primeiro beijo foi num ônibus, na volta da escola. E sabem com quem? Com o Cultura Inútil! Pode? Até que foi legal. Nem eu nem ele sabíamos exatamente o que era "o beijo". Só de filme. Estávamos virgens nesse assunto, e morrendo de medo. Mas aprendemos. E foi assim...
Não sei se numa aula de Biologia ou de Química, o Culta tinha me mandado um dos seus milhares de bilhetinhos:
" Você é a glicose do meu metabolismo.
Te amo muito!
Paracelso"
E assinou com uma letrinha miúda: Paracelso. Paracelso era outro apelido dele. Assinou com letrinha tão minúscula que quase tive dó, tive pena, instinto maternal, coisas de mulher...E também não sei por que: resolvi dar uma chance pra ele, mesmo sem saber que tipo de lance ia rolar.
No dia seguinte, depois do inglês, pediu pra me acompanhar até em casa. No ônibus, veio com o seguinte papo:
- Um beijo pode deixar a gente exausta, sabia? - Fiz cara de desentendida.
Mas ele continuou:
- Dependendo do beijo, a gente põe em ação 29 músculos, consome cerca de 12 calorias e acelera o coração de 70 para 150 batidas por minuto. - Aí ele tomou coragem e pegou na minha mão. Mas continuou salivando seus perdigotos:
- A gente também gasta, na saliva, nada menos que 9 mg de água; 0,7 mg de albumina; 0,18 g de substâncias orgânica; 0,711 mg de matérias graxas; 0,45 mg de sais e pelo menos 250 bactérias...
Aí o bactéria falante aproximou o rosto do meu e, tremendo, tirou seus óculos, tirou os meus, e ficamos nos olhando, de pertinho. O bastante para que eu descobrisse que, sem os óculos, seus olhos eram bonitos e expressivos, azuis e brilhantes. E achei gostoso aquele calorzinho que envolvia o corpo da gente. Ele beijou a pontinha do meu nariz, fechei os olhos e senti sua respiração ofegante. Seus lábios tocaram os meus. Primeiro de leve, depois com mais força, e então nos abraçamos de bocas coladas, por alguns segundos.
E de repente o ônibus já havia chegado no ponto final e já tínhamos transposto , juntos, o abismo do primeiro beijo.
Desci, cheguei em casa, nos beijamos de novo no portão do prédio, e aí ficamos apaixonados por vária semanas. Até que o mundo rolou, as luas vieram e voltaram, o tempo se esqueceu do tempo, as contas de telefone aumentaram, depois diminuíram... e foi ficando nisso. Normal. Que nem meu primeiro beijo. Mas foi inesquecível!

BARRETO, Antonio. Meu primeiro beijo. Balada do primeiro amor. São Paulo: FTD, 1977. p. 134-6.






PARTE I - SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM
TEMA: OLHAR APURADO PARA A DIVERSIDADE
TEXTO: “MEU PRIMEIRO BEIJO” – ANTONIO BARRETO
PÚBLICO ALVO: 8ª SÉRIE/9º ANO


 ANTES DA LEITURA:

  • Definição de finalidades e metas da atividade de leitura:
Antes de iniciar a leitura o professor pode explicitar para turma que leremos um texto com objetivo de compreender/interpretar o texto (o objetivo do professor é desenvolver e ampliar capacidades de leitura)

·         Ativação de conhecimentos de mundo:
Etapa 1: O professor traz o texto em seu devido suporte e trabalha os elementos paratextuais - apresentar o livro e anunciar que leremos um dos contos cujo autor é Antonio Barreto – alguém já leu algo sobre esse autor?
O que é o beijo?
Quais os tipos de beijos você conhece?
Qual a sua relação com o beijo?
Quando um beijo deve ser dado?
Como e quando foi o seu primeiro beijo?

·         Antecipação ou predição:
Etapa 2: Quem já beijou aqui? Será que as pessoas sempre perceberam o beijo da mesma forma? Será que já foi diferente? Tem a ver com amor? Com quem?
Obs. Deixar os alunos se expressar livremente.

Neste momento pode-se  utilizar  o  vídeo da música  “Já sei namorar” – Tribalistas. Em seguida, o aluno lerá então o texto “O Primeiro beijo”, individualmente.

    DURANTE A LEITURA:

Buscar o esclarecimento das palavras desconhecidas, a partir de inferências ou consulta a dicionário. O aluno deverá sublinhar as palavras que desconhece para serem consultadas no dicionário. O professor pode também, solicitar que os alunos escrevam as palavras na lousa para uma 
  • Checagem de hipóteses:
Ao realizar a leitura do primeiro parágrafo, perguntar:
Quem está contando sobre o seu primeiro beijo? Ele ou ela?
Esta pessoa está contando para quem?
Com quem vocês acham que foi o primeiro beijo? 




PARTE II - SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM

 DEPOIS DA LEITURA:


  •       Avaliação crítica do texto:


Você gostou do texto? Por quê?
O texto trouxe novas informações para você?
Ele despertou algum sentimento em você?
O texto fez com que você ampliasse o seu conhecimento de mundo, a cerca do assunto beijo?

·         Localização de informações:
No texto o menino que dá o beijo (o personagem) recebe vários apelidos, quais são eles?
·         Comparação de informações:
No bilhete o aluno vai se remeter aos bilhetinhos que ele faz ou aos torpedos que manda. – Vocês já mandaram algum bilhetinho desse tipo para alguém¿
Após ler o texto, perguntar: essa situação do primeiro beijo, apresentada no texto, já foi vivenciada por vocês?
Qual a relação entre as seguintes expressões: “... Abismo do primeiro beijo, “até que o mundo rolou...” e “foi ficando nisso. Normal”?
·         Generalizações:
Depois da leitura: solicitar que os alunos façam uma síntese oral sobre o texto. Pode ser solicitado também que os alunos comentem a parte que mais chamou sua atenção na leitura.
·         Produção de inferências locais:
1-Durante e depois da leitura é possível fazer várias intervenções para verificar as lacunas de compreensão, exemplo: “O que são perdigotos?”; O que significa a expressão cultura inútil? e “já tínhamos transposto?
2-Assinale a alternativa que NÃO corresponde ao sentido da expressão “Você é a glicose do meu metabolismo.”
A.      Você é o ar que eu respiro;
B.      Você é o amor da minha vida;
C.      Você é uma pedra no meu sapato;
D.     Você é a razão do meu viver.
·         Produção de inferências globais:
1-     O que significa “o bactéria falante”? Em determinado momento do diálogo a personagem fez cara de desentendida. O que isso significa nesse contexto? etc.







                                                                             PARTE III - SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM
                                                                                                                      
     DEPOIS DA LEITURA:

·         Recuperação do contexto de produção:
Pode ser feito antes da leitura do texto ou após a sua leitura. É preciso situar o texto para o aluno. Quem é seu autor? Que posição social ele ocupa? Em que lugar esse texto seria publicado? Buscar as pistas que o texto oferece também é algo de suma importância.  Algumas sugestões:

1- Releia o texto e procure pistas que o ajudem a responder as questões abaixo.
a) O que faz o menino ser chamado de “Cultura Inútil” e “Culta”? Justifique sua resposta.
b) Quanto tempo se passou entre o recebimento do bilhete e o primeiro beijo? Justifique.
2)Como você pode constatar, no primeiro parágrafo, a narradora muda de opinião a respeito da experiência do primeiro beijo.
a) Qual é o primeiro julgamento que ela faz? Retire do texto um trecho que ilustre sua resposta.
b) E o segundo julgamento? Ilustre também com um trecho do texto.
3)Aponte mudanças que ocorreram com a narradora-personagem em relação ao menino.
4)Que estratégia o menino usou para que a menina mudasse seu comportamento em relação a ele?
5) Releia “(...) tínhamos transposto, juntos, o abismo do primeiro beijo.”  A expressão em negrito contém uma figura de linguagem.
a) Que figura é essa?
b) A que se refere essa figura?
6)O que o trecho “(...) as contas do telefone aumentaram, depois diminuíram...” quer dizer?
7)Que opção melhor retrata o tratamento dado ao sentimento amor no texto?
a) O amor infinito, disposto a enfrentar qualquer barreira.
b) O amor como sentimento não correspondido, vivido e sofrido por apenas um ser.
c) O amor como descoberta feita por dois seres que vão tirando lições das histórias vividas.
d) O amor idealizado, perfeito, fruto de uma paixão ardente que nunca se acaba.






 PARTE IV - SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM
·         Percepção das relações de intertextualidade/interdiscursividade:
Levantar trechos do texto que podem ter correspondência de conteúdo, forma ou estilo de outro texto.
ü  Apresentação do vídeo/propaganda: “Meu primeiro Valiser”

ü   Leitura do Texto:  “Meu primeiro beijo” – Antonio Barreto
Em qualquer situação de aprendizagem é possível que o professor mobilize diferentes gêneros textuais para desenvolver a intertextualidade.
Qual a relação que você pode estabelecer entre o vídeo “Meu primeiro Valiser” e o texto “Meu primeiro beijo” – Antonio Barreto?
Depois da leitura o professor pode colocar a turma em contato com outros textos/discursos que estão tramados ao conto “meu primeiro beijo”.
Como sugestão, ainda é possível fazer várias relações de intertextualidade/interdiscursividade com o filme meu “meu primeiro amor”. Abaixo um trecho do clipe:

·         Elaboração de apreciação estética e/ou afetivas:
Levantar e perceber as razões de nossas preferências ou rejeições estéticas/afetivas por trechos ou elementos específicos do texto. A esse respeito, o professor pode perguntar se alguém já teve uma sensação assim ao ser beijado, ou qual o sentimento do personagem em relação a menina? Como isso fica evidente no texto?  
·         Elaboração de apreciações relativas a valores éticos e/ou políticos presentes no texto:
“Estávamos virgens nesse assunto” qual a possível idade dos personagens? Com quantos anos os jovens costumam “ficar”? Em todas as culturas é assim? Em quais culturas/sociedades isso é diferente? Etc.
A ideia é levantar e perceber as razões de nossas preferências ou rejeições éticas e políticas por trechos ou elementos específicos do texto.
·     Percepção de outras linguagens:
Identifiquem no texto as reações físicas e emocionais provocadas pelo “primeiro beijo”.

Neste momento também pode ser feito a comparação e ou comprovação se ocorre o mesmo com o clipe da música “My girl”.



“Ler é compreender e interpretar textos escritos de diversos
tipos com diferentes intenções e objetivos contribui de forma
decisiva para autonomia das pessoas, na medida em que a leitura
 é um instrumento necessário para que nos manejemos
com certas garantias em uma sociedade letrada”. (SOLÉ, 1998)
 

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